domingo, 22 de setembro de 2013

Poema: O Corvo ( Edgar Allan Poe ) - Tradução de Fernando Pessoa do original ''The Raven''.

    Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
          Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
       E já quase adormecia, ouvi o que parecia
        O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
     "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
        É só isto, e nada mais."

    Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
    E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
    Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
    P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
    Mas sem nome aqui jamais!

    Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
    Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
    Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
    "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
    Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
    É só isto, e nada mais".

    E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
    "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
    Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
    Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
    Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
    Noite, noite e nada mais.

    A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
    Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
    Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
    E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
    Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
    Isso só e nada mais.

    Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
    Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
    "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
    Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
    Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
    "É o vento, e nada mais."

    Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
    Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
    Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
    Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
    Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
    Foi, pousou, e nada mais.

    E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
    Com o solene decoro de seus ares rituais.
    "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
    Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
    Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
    Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
    Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
    Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
    Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
    Com o nome "Nunca mais".

    Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
    Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
    Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
    Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
    Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
    "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
    Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
    Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
    E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
    Era este "Nunca mais".

    Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
    Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
    E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
    Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
    Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
    Com aquele "Nunca mais".

    Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
    À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
    Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
    No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
    Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
    Reclinar-se-á nunca mais!

    Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
    Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
    "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
    O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
    O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
    A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
    A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
    Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
    Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
    Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
    Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
    Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
    Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
    Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
    No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
    Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
    E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
    Libertar-se-á... nunca mais!
                                                                  - Edgar Allan Poe
        
              

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Dica de Livro: Alice no País das Maravilhas ( Com as incríveis ilustrações góticas. )

Bem, como eu havia dito no post anterior, eu estou um pouco ocupado com os livros que eu comprei na Bienal, e por isso resolvi não fazer uma ''resenha'' sobre livros dessa vez e sim sugerir uma versão em um estilo bem diferente do livro ''Alice no País das Maravilhas'' de Lewis Carroll. 
Pra falar a verdade, essa versão não é nenhuma adaptação, ou seja, o texto ainda é o mesmo do que foi escrito pelo Carroll, mas o grande diferencial e ponto forte dele são os desenhos feitas pela ilustradora californiana Camille Rose Garcia. Já pela capa, dá para perceber que a imagem fofa e adorável da Alice é totalmente quebrada e substituída por uma outra que chega a ser até assustadora, toda inspirada no estilo de desenho gótico. Por dentro, as páginas do livro foram feitas para parecerem antigas e amareladas, o que é só um detalhe comparado ás ilustrações presentes em quase todo o livro, e cada uma ainda mais bizarra que a outra. ( Em particular a Rainha de Copas foi a mais medonha de todas. ). A parte interna da capa e contra capa é decorada no melhor estilo ''Burtoniano'', sendo toda preta com alguns símbolos presentes na história do livro contornados em roxo. Essa versão foi traduzida pela Tatiana Belinky e foi lançada em 2010... Sim, durante aquele ''boom'' de gente querendo ler sobre Alice só por causa do filme na versão Tim Burton e que deixou as livrarias ficavam praticamente com uma partezinha reservada apenas para o País das Maravilhas em todas as versões possíveis... Confesso que foi mais ou menos por isso que eu acabei comprando essa edição, afinal, o livro é feito em um estilo que tem tudo a ver com o Tim, que querendo ou não, o filme dele foi quem fez muita gente querer ler Alice em 2010... ( Mesmo o filme tendo muito pouco a ver com o livro... Mas pra mim, Burton é Burton e eu gostei. Não foi o melhor filme dele, é claro, mas ainda assim... ) E agora, para quem ficou curioso ou se interessou sobre o livro ( Publicado pela editora Arx e tem 159 páginas. ), eu vou colocar a foto dele aqui com uma das páginas inteiramente ilustradas.







quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O Que Eu Comprei Na Bienal!

Oláa gente! Então, para quem não sabe, essa semana está acontecendo a Bienal do Livro aqui no Rio! ( *-* ) E claro, eu resolvi criar um post exclusivamente para dizer quais foram as minhas compras de hoje na Bienal. Bom, não foram muitos livros e alguns eu simplesmente desisti por causa do tamanho de algumas filas e por causa de estandes completamente lotados. ( Acreditem... Lotado é pouco para alguns lugares... A editora Intrínseca por exemplo, estava impossível de entrar! ) Bom, vamos aos livros comprados então... Eu vou falar um pouquinho de cada um, mesmo que não os tenha lido ainda.

1 - A Espada Na Pedra ( T. H. White )
É o primeiro livro de uma sequencia sobre a vida do Rei Arthur, esse volume conta a clássica história de como foi que Arthur retirou a espada Excalibur de uma pedra. Também li que esse livro serviu de influência para ninguém mais do que J.K. Rowling!! E claro que isso foi motivo mais do que suficiente pra me fazer ir correndo atrás dele, e sinceramente é um dos que estou mais ansioso para ler!


2 - A Arma Escarlate ( Renata Ventura )
Esse é um daqueles livros que eu estava louco para ler, mas nunca conseguia comprar. Cada vez por um motivo diferente, mas dessa vez não só consegui comprar, como também conheci a autora dele e acabei voltando com o livro autografado! Então, pelo que ouvi falar esse é o livro perfeito pra quem já fez a seguinte pergunta ''E se Harry Potter acontecesse no Brasil e de acordo com a sua realidade?'' e para quem já se perguntou isso, acho que ele é quem pode responder essa pergunta.


3 - A Batalha do Apocalipse ( Eduardo Spohr )
Vou ser sincero... Nunca vi alguém criticar esse livro! E foi esse o motivo que me fez ir atrás dele, sem falar que eu adoro essa temática que o livro aborda. E que pelo que ouvi, ele é um daqueles livros que mesmo sendo grandinhos conseguem prender sua atenção sem fazer muito esforço. Agora, para quem prefere, ele foi lançado também em uma versão de capa dura.


4 - Mitologia e Vivências Humanas ( Bosco Oliveira e Ingrid Constant Oliveira )
Por ultimo, um livro que eu encontrei lá totalmente por acaso, e claro que eu como um fã da mitologia grega ( Desde quando vi Hércules da Disney aos 5 anos o/... Ok... Ninguém queria saber disso... ) eu foi correndo dar uma olhada e adorei a forma com a qual ele apresenta a mitologia de forma bem organizada e semelhante ao ''Livro de Ouro da Mitologia'' do Thomas Bulfinch.


Então gente, esses foram os quatro livros que eu comprei na Bienal desse ano, e como eu disse não foram muitos ( Sem contar um ''Passaporte Literário'' e revistas. ), mas gostei muito das minhas escolhas e quando eu terminar cada um, eu virei fazer a resenha deles e é isso, até mais e fica aí a dica de mais quatro livros. Espero que tenham gostado!



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Resenha de Livro: Entrevista com o Vampiro ( Anne Rice ) + Filme + Música

Pois é... Foi difícil pensar sobre qual livro eu iria falar dessa vez... Então, comecei a revirar meus livros em busca de alguma coisa. Foi quando a ideia surgiu através da musica que estava ouvindo: ''Moon Over Bourbon Street'' do Sting. Para quem não sabe ou não conhece, essa música teve como inspiração o livro ''Entrevista com o Vampiro'' e para quem já leu, é possível ver algumas semelhanças entre a letra da música e o ponto de vista do personagem principal do livro, o vampiro Louis de Pointe du Lac, que é também o tal Vampiro Entrevistado do título. O livro conta a história de como foi que Louis se tornou um vampiro e como foram os primeiros anos de sua vida ao lado do homem que o transformou, Lestat de Lioncourt, que é o típico vampiro sedutor, cínico, cruel e egocêntrico. ( Serei odiado pelos fãs de Crepúsculo, mas isso sim é que é um vampiro de verdade e não aquele amontoado de fadas-vampiras-''vegetarianas''. ) 

Eu vou tentar não dar o menor número spoilers possíveis sobre o livro, porque a história é toda interligada e é um pouquinho complicado resumir ele sem dar nenhum spoiler.

Bom, a entrevista começa quando Louis conta sobre sua vida ainda humana na Louisiana para o seu entrevistador Daniel Malloy, e sobre como uma série de acontecimentos o leva até o momento em que se encontra com Lestat e consequentemente com a sua ultima visão do pôr do sol. 
 Depois que sua transformação em vampiro se completa, ele começa a refletir e a se opor contra seus novos hábitos alimentares, e diferente de Lestat, ele não acha nada divertido o fato de matar. Mas ainda sem escolha, ele opta por se alimentar de sangue de animais ( E não ficava se auto intitulando de ''Vampiro Vegan'' por aí... Mas enfim. ) que apesar de não darem tanta força e vigor quanto o sangue humano, o mantém vivo. Quando Lestat descobre que Louis anda se alimentando dessa forma, começa a uma série de deboches e críticas que duram até o dia em que a dieta de viver sem sangue humano é burlada, e de uma forma um tanto dramática e que acaba influenciando o surgimento de uma outra personagem, a vampirinha Claudia, que é ''adotada'' pelos dois vampiros. Durante esse convívio, personalidade de Claudia vai se tornando uma mescla de alguns traços das personalidades de ambos, como uma certa indiferença em matar, herdada de Lestat, com o desgosto em ser vampira, herdado de Louis. Porém, ainda assim, ela acaba se aproximando mais dele e de sua visão sobre o mundo, chegando até mesmo a trair a confiança de Lestat para poder ter uma chance de fugir junto com Louis do tormento que se torna viver junto na presença e no estilo de vida sórdido do outro vampiro. No desenvolver da trama, aparece outro personagem importante no livro, Armand, que Louis vê como uma possibilidade de obter algumas respostas sobre sua nova visão do mundo, sendo um vampiro.
O primeiro volume das Crônicas Vampirescas, ganhou a sua versão para cinema em 1994, com Brad Pitt interpretando Louis, Tom Cruise como Lestat, Antonio Banderas como Armand e Kirsten Dunst interpretando Claudia. O filme também conta com a participação de atores como Stephen Rea e Christian Slater. A versão para cinema do livro, tem algumas adaptações em assuntos mais ''polêmicos'' que são tratados no livro como por exemplo, a forma que os personagens se relacionam, algumas atitudes e até mesmo o pai de Lestat que no filme nem mesmo é mencionado! 
E para terminar, só me resta lembrar que o livro é o primeiro de uma coleção chamada ''Crônicas Vampirescas'' que começou a ser lançada no ano de 1976, todos escritos por Anne Rice e já traduzidos no Brasil. A coleção inclui outros títulos como ''O Vampiro Lestat'', ''Memnoch'', ''A Rainha dos Condenados'', ''O Vampiro Armand'' entre outros. O ultimo livro da coleção foi lançado em 2003 e se chama ''Cântico de Sangue''.